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Necessidade das tentações – por Rafael Simões

As tentações são certas na vida de qualquer cristão. Não há como escapar delas. Geralmente, a tentação vem após um momento de grande alegria espiritual, quando o cristão pensa estar seguramente bem. Não há como baixar a guarda, nem diante de momentos em alta na caminhada cristã. As tentações sempre assombram o cristão. E, como ensina o episódio de Mateus 4, os propósitos são trocar a primogenitura espiritual pelas glórias passageiras deste mundo e adorar e servir a criatura em vez do Criador.

Faz-se necessário, então, aplicar o que Pedro diz em sua primeira carta, em 5.8: ser sóbrio e vigilante. O motivo disso é o fato do Diabo estar sempre ao derredor, esperando para devorar. O cristão maduro e espiritual é aquele que não busca para si as tentações, flertando e brincando com o perigo. Antes, ora como Jesus ensinou, clamando pelo afastamento do mal.

Em sobrevindo a tentação, porém, o cristão deve utilizar-se do exemplo deixado por Cristo, reconhecendo a importância de passar ileso, sem pecado, diante de situações como essa. Um cristão não deve pensar que as tentações não são necessárias, mas aprender a lidar com elas, antes delas encontrarem o eco interior que resulta no pecado. Como escreve Dietrich Bonhoeffer (Tentação, 1995, p. 32),

“Mas, quem somos nós que pudéssemos discutir sobre a necessidade de nos sobrevir a tentação? Sentamos no conselho de Deus? Em todo o caso, se necessário for que venha a tentação – devido a um indecifrável ditame divino – então, Cristo nos concita, ele o mais tentado de todos, para orarmos como em protesto contra este ditame divino, e isto não como resignados, como quem estoicamente se entrega à tentação. Cristo nos ensina a fugir do inevitável, em que Deus parece estar complacente com Satanás, para recuperarmos a liberdade divinamente revelada e nela clamarmos para que Deus espezinhe o diabo sob seus pés. Não nos deixe cair em tentação”.

O cristão deve sempre reconhecer que as tentações por ele enfrentada são primeiramente tentações de Cristo, assim como as vitórias. Tal pensamento evita a vanglória em caso de êxito nas tentações, reconhecendo que Jesus, mais do que o exemplo, concede também a própria vitória. Enxergar as investidas de Satanás sem essa ótica revela um coração orgulhoso e autossuficiente.

A tentação de Jesus, então, não apenas fornece o exemplo maior de como lidar com a tentação procedente de Satanás, mas concede as ferramentas necessárias, a saber: a resistência ao Diabo, a prioridade em agradar e obedecer a Deus, o uso da Palavra e a assistência e socorro de Jesus Cristo, o sumo sacerdote dos cristãos.

Tentações são comuns na vida do cristão. Experiências necessárias para o crescimento e amadurecimento dos filhos de Deus. Embora não deva ser procurada e ansiada, por outro lado não deve ser negado o seu valor, especialmente quando o cristão passa por ela aprovado.

Citando mais uma vez Bonhoeffer (p. 69), “toda tentação é tentação de Jesus Cristo, e todo triunfo é triunfo do mesmo Cristo”. Uma visão de Cristo em tentação, sofrimento e glória é o antídoto supremo para os desencorajamentos, especialmente durante as tentações. É só com essa máxima em mente que um cristão se valerá de situações adversas para aproximar-se de Deus, tornando-se à semelhança de Jesus Cristo.

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